... por gentileza do poeta e professor paulista Horácio Costa, que recentemente visitou Portugal e com quem passei uma bonita tarde. Dois livros dele, em belíssimas edições da Demónio Negro: o longo poema Paisagem II, dedicado a Ana Hatherly, e Ravenalas, volume que colige textos escritos entre 2004 e 2008. Deste último volume, passamos a reproduzir a longa "Memória de um taturanicida".
Enalteçamos a transformação, por isso
Execremos o taturanicida.
Ele descobrira a analogia
Entre a taturana e a vulva.
Inspirou-se.
Passou a expor o pene
A abrasações de taturanas
Esmigalhadas.
A glande primeiro sufocava,
Depois inchava como um
Montgolfier.
Então objetivava penetrar
Todas as mulheres, não,
Apenas a musa,
Aquela que sempre toma a fresca
Na varanda.
Aquela cuja saia são azulejos
Pulcros, azuis e brancos,
Aos pés dos quais ajuntam-se
Cadáveres e cadáveres de insetos.
Ele se submetia à dor
Para impressioná-la.
Vêde que grande glande tenho,
Implorava-lhe, quem, mais do que
Nessa, reparava
Na desgraciosa cacofonia.
E as profundidades
Não lhas abria.
O obsessivo taturanicida
Suportou pesares:
Centenas de taturanas mortas,
mariposas que jamais voaram
E a glande cada vez maior:
Mais arredia, a musa.
Morreu de seu próprio veneno
O execrável taturanicida
E Calíope segue em sua varanda
Tomando a fresca,
Vestida de azulejos frios,
Enquanto simpatiza com o vôo
Feliz de lepidópteros.
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