Mais à frente, numa plataforma rolante, Epeu e outros ajudantes levantavam quatro colunas que, embora estivessem dispostas de maneira pouco ortodoxa, pareciam a base de uma estrutura mais alta.
Timalco viu-os trabalharem durante muito tempo antes de se retirar invadido por dúvidas. Enquanto andava, sentiu-se acometido por um vago temor que não soube interpretar. Se a construção tinha a aparência de uma extravagante máquina de guerra própria para um cerco, o que planeava fazer com ela Odysseus? Que nova artimanha urdia? Estremeceu, inquieto. As traições do senhor de Ítaca foram a causa da morte de Palamedes e Ájax, e quase o foram da de Diomedes. Por sua culpa, aqueles dois nobres heróis acompanhavam agora Pátroclo, Heitor e Aquiles na sua escura morada além do rio dos mortos. Todos aqueles admiráveis combatentes, mortos em tão pouco espaço de tempo, provavam-lhe que a boa ou má fortuna nada tinha a ver com o mérito ou a virtude; que na vida, Themis, a deusa da justiça, nem sempre favorece os melhores. Talvez fosse sinal dos tempos, pensou. Talvez os homens de valor estivessem a acabar para que uma nova estirpe reinasse em seu lugar. Uma raça perversa, como era a de Odysseus, cuja força residisse não no coração mas na cabeça. Que valorizasse mais a palavra do que os actos. Os seus adeptos apreciariam o engano menosprezando a honra, e o combate leal seria substituído pela mentira, pela falsidade e pela astúcia. Já não haveria batalhas em campo aberto, os vencedores espreitariam na sombra. E seriam eles, no fim, que, aproveitando a rectidão e a pouca malícia dos seus inimigos, governariam a terra.
Timalco viu-os trabalharem durante muito tempo antes de se retirar invadido por dúvidas. Enquanto andava, sentiu-se acometido por um vago temor que não soube interpretar. Se a construção tinha a aparência de uma extravagante máquina de guerra própria para um cerco, o que planeava fazer com ela Odysseus? Que nova artimanha urdia? Estremeceu, inquieto. As traições do senhor de Ítaca foram a causa da morte de Palamedes e Ájax, e quase o foram da de Diomedes. Por sua culpa, aqueles dois nobres heróis acompanhavam agora Pátroclo, Heitor e Aquiles na sua escura morada além do rio dos mortos. Todos aqueles admiráveis combatentes, mortos em tão pouco espaço de tempo, provavam-lhe que a boa ou má fortuna nada tinha a ver com o mérito ou a virtude; que na vida, Themis, a deusa da justiça, nem sempre favorece os melhores. Talvez fosse sinal dos tempos, pensou. Talvez os homens de valor estivessem a acabar para que uma nova estirpe reinasse em seu lugar. Uma raça perversa, como era a de Odysseus, cuja força residisse não no coração mas na cabeça. Que valorizasse mais a palavra do que os actos. Os seus adeptos apreciariam o engano menosprezando a honra, e o combate leal seria substituído pela mentira, pela falsidade e pela astúcia. Já não haveria batalhas em campo aberto, os vencedores espreitariam na sombra. E seriam eles, no fim, que, aproveitando a rectidão e a pouca malícia dos seus inimigos, governariam a terra.
Antonio Sarabia, Tróia ao Entardecer
2 comentários:
Adorei o Texto, quanto aos temores de um possível fim dos tempos, nunca temo o fim dos tempos, por que sei que há muito que ele é temido e nunca chega, para mim isso não existe
http://poesia-incompleta.blogspot.com/2009/02/acaba-assim_28.html Olha, vai lá espreitar! Abraço, amigo.
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