

A pacata vila de Aljustrel, foi, na passada terça-feira, 28, teatro de uma lamentável tragédia que emocionou a população desta laborioso vila alentejana. Foram dela protagonistas a costureira Natividade Bertral, solteira, de 27 anos, e o Snr. Francisco Barão Carapinha Junior, também solteiro, de 31 anos, desenhador da Companhia de Minas daquela vila e estimado correspondente dêste jornal.
Pela manhã daquele dia, quando o nosso malogrado correspondente se dirigia para o escritório, viu surgir numa volta da estrada a sua antiga namorada, a Natividade Bertral, com quem andava de relações tensas. Trocaram algumas palavras e esta, que há muito o perseguia para o obrigar a cumprir uma pretensa promessa de casamento, viu-se, ao que parece, mais uma vez repudiada. Cega de raiva, a Natividade sacou de um revólver de que se munira, e, disparando um tiro, alvejou o Snr. Carapinha na região lombar, na ocasião em que êste lhe voltava as costas para prosseguir o caminho. Ferido gravemente, o nosso desditoso amigo que não esperava a agressão, ainda conseguiu desarmar a tresloucada, vibrando-lhe algumas pancadas na cabeça, com a coronha do revólver. Socorrido, foi conduzido a Lisboa, ao Hospital de S. José na tarde desse dia, onde infelizmente veio a falecer algumas horas depois. A agressora recolheu sob prisão ao Hospital da vila, onde mais tarde, com o mais revoltante cinismo, narrou a sua façanha, confessando não estar arrependida do acto que acabava de praticar.
O Snr. Francisco Barão Carapinha Junior, era um moço trabalhador, muito considerado, que contava gerais simpatias em Aljustrel, tendo a sua inesperada morte causado ali a maior consternação. Era um grande amigo do nosso jornal, que, devido ao seu esfôrço e de outros amigos, conseguiu ver duplicada a sua tiragem. Trabalhou por ele ardorosamente, já ilustrando-lhe as colunas com os seus conscienciosos escritos, já conseguindo arranjar correspondentes e assinantes em várias terras do Baixo Alentejo. Ainda ha bem pouco tempo havia ganho a «Maratona da Amisade», do nosso jornal, pelo avultado número de assinantes que conseguira.
A notícia foi-nos transmitida telefonicamente pelo nosso dedicado correspondente no Cartaxo, Snr. Silvestre Constantino Alexandre, e infelizmente confirmada pelos jornais que à noite recebemos.
Sentindo devéras a morte trágica deste nosso querido companheiro de trabalho, que na flor da vida foi tão abruptamente roubado ao carinho dos seus, «A Mocidade», envia a sua família a expressão sincera das mais sentidas condolências, e desfolha sôbre a campa do infortunado companheiro, as pétalas de uma saüdade infinda.
Sem comentários:
Enviar um comentário