quinta-feira, janeiro 22, 2009

Assassínio e roubo

Também em 1939, dá conta a alentejana Mocidade de mais um hediondo crime ocorrido nas redondezas de Montargil, desta feita sem padecimento de almas, se bem que, pela descrição que se faz da agressão, não possamos evitar questionar como é que a vítima António Fouto sobreviveu. Tal como no caso que reproduzimos anteriormente, também aqui o jornalista em causa é particularmente dotado ao nível da narração (apesar do desprezo pela acentuação de algumas palavras e de fazer anteceder o nome das pessoas por artigo definido), exibindo uma peculiar omnisciência relativamente a factos e intenções. Ainda dizem que antigamente não haviacrime violento no nosso país... Ficai pois, caríssimos leitores, com o relato destes mui gravosos acontecimentos, conforme dados a lume pela Mocidade de Ponte do Sôr.

No dia de Ano Bom, no lugar da Marouca, subúrbios da vila de Montargil, deste concelho, deu-se um revoltante crime de tentativa de assassinato e roubo que, pelas trágicas circunstancias em que foi cometido, bem revela a extraordinaria audacia e ferocidade de quem nele tomou parte,

Antonio Fouto, casado, proprietario, morador naquele lugar, é um indivíduo que tem fama de possuir dinheiro. Sua mulher encontra-se ha bastante tempo internada num hospital e o Fouto, vivendo quási só, costumava deitar-se bastante cedo. Encontrando-se já recolhido, sentiu bater à porta; e, julgando ser algum dos seus filhos, levantou-se para abrir.

Imediatamente três meliantes que se encontravam na rua, lançaram-se sobre ele, agredindo-o à machadada, sem que o Fouto podesse esboçar qualquer defesa, lançando-o por terra a jorrar abundante sangue. Supondo-o morto, os assaltantes percorreram os cantos da casa encontrando apenas uma nota de cem escudos que a victima tinha no bolso falso do casaco. Em seguida ataram uma corda ao pescoço do Fouto, arrastando-o a distancia, e ali um dos facinoras disse a um dos companheiros que lhe cortasse o pescoço. Munido de uma faca o outro bandido vibrou um golpe no pescoço do Fouto. Por felicidade a faca apenas cortara a grossa corda que apertava o pescoço da vítima, circunstancia em que os meliantes não repararam, certamente por a noite estar escura e supondo terem morto o Antonio Fouto, desapareceram.

Voltando a si passado algum tempo, a victima gritou por socorro, tendo os seus gritos sido ouvidos por Manoel Alves e Gabriel Fernandes, do Telheiro, que regressavam a suas casas. Transportado ao Hospital de Montargil, o ferido foi ali tratado pelo Snr. Doutor Amandio Lourenço Falcão da Luz que lhe suturou os ferimentos com 17 pontos. Felizmente estes não são de gravidade e o ferido encontra-se melhorando.

O caso foi participado às auctoridades, estando a proceder a investigações o agente Nunes de Almeida, da Polícia de Investigação Criminal de Lisbôa.

Foi detido como um dos supostos auctores de tão nefando crime, Monoel Gomes, por alcunha o Manelão, o qual ao ter conhecimento que a Polícia lhe estava passando uma busca em sua casa, correu a ela em atitude ameaçadora, munido de uma machada, tendo sido necessario para o conter em respeito, o agente puxar de uma pistola, ao mesmo tempo que a mulher intervinha, segurando-o.

Sem comentários: