No dia de Ano Bom, no lugar da Marouca, subúrbios da vila de Montargil, deste concelho, deu-se um revoltante crime de tentativa de assassinato e roubo que, pelas trágicas circunstancias em que foi cometido, bem revela a extraordinaria audacia e ferocidade de quem nele tomou parte,
Antonio Fouto, casado, proprietario, morador naquele lugar, é um indivíduo que tem fama de possuir dinheiro. Sua mulher encontra-se ha bastante tempo internada num hospital e o Fouto, vivendo quási só, costumava deitar-se bastante cedo. Encontrando-se já recolhido, sentiu bater à porta; e, julgando ser algum dos seus filhos, levantou-se para abrir.
Imediatamente três meliantes que se encontravam na rua, lançaram-se sobre ele, agredindo-o à machadada, sem que o Fouto podesse esboçar qualquer defesa, lançando-o por terra a jorrar abundante sangue. Supondo-o morto, os assaltantes percorreram os cantos da casa encontrando apenas uma nota de cem escudos que a victima tinha no bolso falso do casaco. Em seguida ataram uma corda ao pescoço do Fouto, arrastando-o a distancia, e ali um dos facinoras disse a um dos companheiros que lhe cortasse o pescoço. Munido de uma faca o outro bandido vibrou um golpe no pescoço do Fouto. Por felicidade a faca apenas cortara a grossa corda que apertava o pescoço da vítima, circunstancia em que os meliantes não repararam, certamente por a noite estar escura e supondo terem morto o Antonio Fouto, desapareceram.
Voltando a si passado algum tempo, a victima gritou por socorro, tendo os seus gritos sido ouvidos por Manoel Alves e Gabriel Fernandes, do Telheiro, que regressavam a suas casas. Transportado ao Hospital de Montargil, o ferido foi ali tratado pelo Snr. Doutor Amandio Lourenço Falcão da Luz que lhe suturou os ferimentos com 17 pontos. Felizmente estes não são de gravidade e o ferido encontra-se melhorando.
O caso foi participado às auctoridades, estando a proceder a investigações o agente Nunes de Almeida, da Polícia de Investigação Criminal de Lisbôa.
Foi detido como um dos supostos auctores de tão nefando crime, Monoel Gomes, por alcunha o Manelão, o qual ao ter conhecimento que a Polícia lhe estava passando uma busca em sua casa, correu a ela em atitude ameaçadora, munido de uma machada, tendo sido necessario para o conter em respeito, o agente puxar de uma pistola, ao mesmo tempo que a mulher intervinha, segurando-o.
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