segunda-feira, setembro 08, 2008

Dia décimo sexto. Krk


Estamos na ilha. Ilha de pedra, de arvoredo, de estradas esguias à vista do mar tranquilo. Passamos a manhã em casa, abrigados da chuva que ainda resta da noite passada. Ao princípio da tarde saímos para Krk, a principal localidade deste pedaço de terra com o mesmo nome. Fortaleza antiga, com igreja e torre de vigia. Numa tabuleta informativa, leio qualquer coisa sucinta acerca do dialecto outrora por aqui falado, o vegliot, extinto no século XIX com o falecimento do seu último falante. Também as línguas definham e morrem, como invariavelmente todas as coisas sobre a terra.
Em Vrebnik, caminhamos pelas ruas estreitas e sinuosas, e adquirimos cinco litros do fabuloso vinho branco Žlahtina. Apercebo-me ter a Croácia maior número de semelhanças com o meu país do que a Hungria, possivelmente pela contiguidade marítima ou pela sua latitude mais meridional: funcionários trombudos em certos estabelecimentos, programas televisivos legendados, as conversas aos berros, o azeite...
À noite, sou requisitado para a ignição de um fogo de lenha para churrasco. Exagero na combustão, como é costume acontecer. Os alemães do andar de cima da vivenda onde estamos instalados mostram a sua bem-disposta compreensão. Após o prazenteiro jantar e vários decilitros do referido vinho, instalo-me com S. na cama e inicio o Diário de Leituras de Alberto Manguel, livro sobre livros e sobre as ocasionais e admiráveis relações destes com a realidade mais ou menos lata de cada leitor:

Para um livro nos atrair, talvez seja necessário que ele estabeleça entre a nossa experiência e a experiência da ficção - entre as duas imaginações, a nossa e a registada na página - uma ligação de coincidências.

1 comentário:

magarça disse...

Estive em krk, ha cerca de 4 anos. Esta imagem traz-me à memória belos passeios :)