segunda-feira, agosto 11, 2008

Dia terceiro. Gellert


Curiosa e absolutamente imprevista a tempestade de vento e chuva que por volta das quatro horas desta manhã se abateu sobre a nossa rua, de nome Ilka, aqui perto do Liget. Verdade que durou apenas escassos minutos, mas foi o suficiente para nos despertar em semi-sobressalto e renovar as preocupações e arrelias de S. em relação a um tecto afectado por sucessivas acumulações de água no raso telhado. O fim da manhã, já com o sol alto, continua a ser a hora de eleição para o nosso despertar, sempre tranquilo e aprazível.

Começámos entretanto a experimentar uma necessidade de ir anotando todos os lugares que por esta ou aquela razão queremos visitar e para os quais não se oferece de imediato a boa oportunidade. Um dos que porém lográmos cumprir, sempre por sugestão de S., foi o restaurante de comida sérvia Castro (foto), não muito distante da sinagoga da cidade. Comemos uma espécie de pequenas e deliciosas salsichas acompanhadas por uma variada salada, da qual sem dúvida se destacaram as azeitonas e um tipo de queijo de cabra, quase no ponto de queijo creme, ao qual faltou o pãozinho, o qual, ao contrário de entre nós, não é providenciado se não solicitado.

Após o óptimo repasto, cumpriu-se de igual modo o plano de, por fim, atravessar o Danúbio, pela ponte diante do Monte Gellert, o qual traz o nome de um bispo católico do século XI, capturado pelos nativos pagãos destas paragens e por eles arremessado para o rio a partir da dita elevação, no interior de um barril revestido a picos e gumes. Dura tarefa, nesses primeiros tempos, a da cristianização dos insolentes hereges. Ainda assim, sempre mereceu o mártir ver o seu nome atribuído a um dos principais desenhos geológicos da boa capital.


Foi este monte verdejante, por conseguinte, o nosso destino, o cume do qual pudemos apenas alcançar após demorada caminhada por um trilho que, apesar de traçado por obra humana, de nós exigiu factura de enorme suor. É no cume do Gellert que se encontra a estátua de uma gloriosa figura feminina, dedicada a todos os que deram a sua vida pela liberdade do povo húngaro. Não deixa isto de fazer todo o sentido, por ter sido nesta sobranceira elevação que em tempos os habsburgos mantiveram a sua vigia sobre a cidade, tendo também mais tarde o poder nacional-socialista utilizado o mesmíssimo monte para fins militares.


Descemos o Gellert de forma naturalmente menos esforçada, em certa medida ao jeito de Fernão Veloso, para terminar a tarde com uma cerveja ao pôr do sol no terraço de um feioso edifício da Praça Blaha Lujza, assim nomeada em homenagem a uma famosa cantora lírica. Cabe-me então aqui nomear as cervejas até agora experimentadas desde a nossa chegada, a saber, Soproni, Arany Aszok, Dreher (clara e escura) e a eslovaca Kozel.

Já de volta a casa de S., onde pela segunda noite optámos por fazer serão de repouso, logrei convencê-la ao visionamento de Dune, de David Lynch, na esperança de que o abismo que nos separa em termos de gostos cinematográficos pudesse ser estreitado com uma película de teor mais épico, isto para não falar em tudo o que para além disso me fascina nesse filme. Mas este não é decididamente o desejado âmbito desta notícia, pelo que será de todo conveniente deixar que agora somente cantem, em jeito de boas-noites ou despedida, os suaves grilos da rua Ilka.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só resta mesmo a questão:
Hogyan tudott a kis Magyarország ennyi Nobel-díjast és nagy tudóst adni a világnak?