quarta-feira, agosto 13, 2008

Dia quarto. Família vária

Desde a nossa chegada, outro não tem sido o despertar que sob o esplendoroso domínio de um sol absolutamente radiante. O calor continua a ser intenso, muito nos níveis do que se deve estar a sentir por casa e roçando amiúde o sufoco cruel. Tudo isto é acentuado pelo facto de pouca ou fraca ser na maior parte das vezes a aragem que corre, e por ser nossa principal actividade o calcorrear constante, daqui para ali e de ali já para outro lugar da cidade, sujeitos à inclemência da canícula.

À excepção de ter por fim conseguido comprar forints, a tosca moeda usada pelos nativos, e de uma visita para efeitos de almoço ao bar-restaurante Marxim, profusamente decorado com iconografia comunista, em jeito de revivalismo mais estético que propriamente ideológico, devo dizer que o dia foi maioritariamente dedicado à família de S. A visita ao pai acabou por ser bem mais descontraída do que eu inicialmente supusera, ainda que entre nós não houvesse qualquer língua em comum e a comunicação se tenha praticamente reduzido a brindes de cerveja e copinhos do já histórico Unicum. Que calor se fazia sentir àquela hora da tarde! Por ser o pai de S. escritor, ainda que de artigos de opinião num jornal da capital, talvez ele encontrasse alguma pequena graça a esta breve notícia que tenho vindo aqui a deixar... Levo desta visita porém a segura memória de um jardim quase encantado, ricamente revestido da mais variada flora e morada de inúmeras espécies animais, ao estilo de um pequeno e caótico jardim zoológico.

Revimos mais tarde a parte da família de S. com quem jantáramos na primeira noite. A ocasião foi um jogo-treino de futebol do jovem primo V. O seu clube é o Ikarusz, e o campo faz paredes meias com os terrenos de uma fábrica de autocarros com o mesmo nome, à qual, em idos tempos de maior esperança e prosperidade, pertencia o imberbe clube desportivo. Nessa época de pujança socialista, conforme T. teve oportunidade de me elucidar, a fábrica chegou a produzir cerca de doze mil unidades anuais para tudo o que eram nações irmãs, incluindo a própria Cuba de Fidel. Tempos que já não voltam...

Após um leve jantar na companhia de todos, regressámos a casa, já algo fatigados, e sob um incómodo aguaceiro, quem sabe se a anunciar já o fim do sol dos primeiros dias.

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