quarta-feira, agosto 20, 2008

Dia sexto. Casa do Terror


Pela primeira vez, e a menos de uma semana de deixarmos a capital rumo a outras paragens, sentimos que talvez nos venha a faltar tempo para tantas planeadas visitas e actividades. Falta-nos ainda as grutas, o castelo, uma ansiada viagenzinha Danúbio acima e, claro, os banhos, que por aqui, como se sabe, se oferecem em abundância e variedade.

Pelo meio-dia, visitamos um dos museus que ladeiam a Praça dos Heróis, a saber, o mais dedicado a exposições temporárias, onde pudemos apreciar (e com que fascíno!) novo acervo da mais recente arte húngara, com toda essa variedade de meios, mensagens e materiais que parece caracterizar o labor artístico mais contemporâneo.

Após um mais que merecido café, apartamos eu e S. caminhos pela primeira vez em seis dias. Aproveitei essas horas para uma visita à chamada Casa do Terror, edifício magnífico em plena Avenida Andrássy, onde se procura evitar esquecer todo o martírio perpetrado pelos anos negros do comunismo sobre o povo húngaro. Está bem feito o museu, fértil em testemunhos e heranças materiais da época, profícuo também na informação fornecida. A cave do edifício, o qual convém adicionar ter sido na época a sede nacional da polícia política comunista, é imprópria para crianças ou espíritos mais susceptíveis. Aí se reconstituem as celas de detenção e as salas de tortura e execução. Essa coisa sombria da maldade infligida ao homem pelo homem permanece absolutamente grotesca. Como foi possível?, pergunta em lágrimas certo indivíduo, cujo testemunho foi filmado. Porquê tudo aquilo? O museu não oculta as faces e os nomes de vítimas e algozes. A Casa do Terror é também em grande parte uma casa de denúncia.

A visita não me saiu da cabeça o dia inteiro, mesmo durante o agradável convívio nocturno na Praça Deák, com algumas caras conhecidas de outras lides de Lisboa. A dada altura, perguntou-me D. que coisas eu estranhava aqui no país dos húngaros. Como é evidente, não pude deixar de assinalar o asco que me mete vê-los barrar fatias de pão com banha de porco.

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