domingo, agosto 31, 2008

Dia décimo segundo. Pelo Danúbio até Viségrad


Levámos hoje por diante o bom projecto de tomar um cruzeiro Danúbio acima, na direcção da fronteira eslovaca, rumo à idílica vila de Viségrad (foto), com passagem pelas verdejantes margens do rio e suas sossegadas ilhotas. A viagem fez-se não sem pontuais inconvenientes: a madrugadora hora da partida, as três horas e meia de viagem na quase lotada embarcação, e os magotes lentos e queixosos de velhíssimos aposentados, cheios de caprichos, a ocupar sempre os melhores lugares por terem chegado ao barco seguramente com um par de horas de antecedência.
Ainda assim, a viagem compensa imenso: que belo é o rio por estas paragens! E imaginem só por momentos os povos que aqui acharam por bem assentar arraiais e fundar povoados... Que privilégio! Os banhistas, as pequenas habitações de recreio, a lírica passarada, tudo suave no Danúbio, suave e tranquilo, suave e inesquecível.
Em Viségrad, aproveitamos para almoçar no belíssimo Don Vito, um restaurante italiano profusamente decorado com iconografia relativa à personagem encarnada por Marlon Brando na saga de Coppola. Ao ler o menú, dividido em várias secções consoante o tipo de prato, apercebo-me da primeira verdadeira graçola alguma vez por mim lida numa ementa de restaurante: sob a rubrica “pratos de cavalo”, um item apenas, a saber, “horse head in bed sheets, English style”. Preço: 600.000 dólares americanos.
Depois do almoço, apanhamos um táxi que nos leva ao cimo do alto monte, principal atracção da histórica vila. Experimentamos, quais crianças deleitadas, as curvas e velocidades do tobogã de verão. Testamos depois a nossa perícia (a minha incompetência) em doze buracos de minigolfe. Dirigimo-nos subsequentemente ao imponente castelo, amplamente ornamentado de artifícios medievais, desde armas a intrumentos de caça. Trata-se originalmente de uma construção romana do século IV, tendo sido depois bastião de povos eslavos, reduto dos primeiros húngaros, alvo do poder ocupacionista turco e, finalmente, de novo morada da realeza magiar, que teve de o reconstruir após a parcial destruição otomana.
Das muralhas do castelo, meio atordoados pela singular beleza do Danúbio, admiramos a vista que se estende ao nosso olhar. São centenas de metros de rio para ambos os lados, ladeados de diversas e verdejantes elevações. Tudo idílico, indescritível. Aqui teria em tempos sido possível passar toda uma inteira eternidade em caçadas, recreios vários, abençoados pelas águas e pela tranquila natura. Que muitos e bons anos ainda te preservem, bela Viségrad, à beira rio plantada!
De regresso à capital, igualmente ao sabor do rio, tomamos a brusca decisão de saltar do barco em Vác e seguir posteriormente para casa de comboio. A vila está muito bem tratada, com belíssimos espaços para passear à beira rio e uma sumptuosa praça principal, em perfeita desproporção relativamente ao real tamanho da localidade. Será confusão minha ou não foi o Vác, há alguns valentes anos, adversário do Glorioso em certa eliminatória europeia. Sim, foram mesmo eles! Recordo ver a primeira mão na televisão com o meu primo R., numa casa que já sofreu entretanto profundas remodelações. Golo de Schwartz, de pé esquerdo, naturalmente. Creio que depois, na segunda mão, goleámos na Luz.
Pelas oito horas e meia da noite, tomámos o comboio de volta para casa, onde não oferecemos grande resistência ao sono e ao cansaço dos membros. Levámos para casa imagens das margens do Danúbio e também das suas águas, do seu vagar, dos séculos inteiros transportados por essas correntes.

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