Sim, eu sei que ainda não tinha falado das presenças femininas no Festival Tordesilhas. E vozes femininas foi o que não faltou por lá, se bem que eu tenha alguma dificuldade em falar sobre o que é isso de uma voz feminina. Por outro lado, sei muito bem quando se ganha uma amiga. Neste caso, uma mulher muito especial que tive a sorte de conhecer em São Paulo. Antropóloga e professora na Universidade Federal Fluminense, Lígia Dabul publicou já inúmeros poemas em revistas e jornais literários brasileiros. Dela recebi durante o festival o seu livro Som (Bem-Te-Vi, 2005) e também um dos maiores elogios que ouvi na vida: "um amigo que parece carioca". Quem quiser conhecer melhor esta poeta do Rio de Janeiro (e digo-vos que vale mesmo a pena conhecê-la), poderá ler alguns poemas seus e também uma belíssima entrevista aqui. Mas fica desde já um aviso: tanto no plano formal como ao nível da mensagem que resiste a uma leitura imediata, esta não é decididamente uma poesia para qualquer estômago. Deixo-vos com um dos poemas de Som. Bom proveito.
Chove tudo.
Chove tanto.
Chove como homem
depois do incômodo
do mormaço. Goza
como vento denso
finalmente molha o suor.
A chuva que se estende em tempo ameno,
desconcentrado,
quero com a boca ainda toda aberta
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