domingo, dezembro 28, 2003

Pequena dramaturgia. Opções para um desenlace.

Bilro é aquilo a que podemos chamar um digno representante da midlife crisis nacional. Gere a contabilidade de um negócio alheio. Casado e pai de filhos nenhuns. Glória é o nome da esposa, carente e resignada. Professora primária mal paga. Doce de ancas e peitos. Quando a noite cair sobre aquela casa...

1. Bilro e Glória irão jantar em sossego, regando o repasto com trivialidades do género o antunes anda lá a chatear-me com uns números ou parece que a minha mãe anda mal outra vez. Vão apagar a luz às vinte e três e sonhar com formas e cores que não compreendem.

2. Glória toma a iniciativa de fritar peixe-espada para o jantar e Bilro chega a casa com umas trombas a arrastar pelo chão. Começam a discutir uma qualquer peça de telejornal. Uma autarquia fraudulenta. O pnr em congresso nacional. Alguns comentários mais acesos, a coisa dá para o torto e começam numa de ataques pessoais. A vida sem beijos. Glória tem a mania que é mais do que os outros. Bilro, um insensível. Que merda! Vão para a cama, as costas voltadas, a vida sem beijos.

3. Glória vai querer explodir num pranto. Andou a pensar nisso desde manhã cedo, quando deixou derramar uma bica pelo branco da banal camiseira. Antes que se ponha a chorar, Bilro diz-lhe que quer pôr-se a andar dali para fora, sem dramas. Dar tempo ao tempo e ver se aquilo que sente pelo antunes é para valer.

4. Glória entra em casa alvoraçada. Vem desde a paragem de autocarro com vontade de foder. Traz uma garrafita de vinho. Entretanto, e terminado o dever do dia, Bilro vai já satisfazendo a sua igualmente enorme vontade com a secretária aninhas, no escritório. O cio dos animais.

5. Glória espera em vão pelo marido até às nove e meia. O telefone toca...
A linha verde encontra-se de momento encerrada por motivo de acidente humano. Pedimos desculpa aos senhores passageiros pelo incómodo causado. Queria ter-lhe dito que ainda acreditava nos dias, que estava grávida.