Já aqui falei do poeta Ruy Ventura. Por duas ocasiões, creio. A propósito da tradução para o inglês do seu terceiro livro Assim Se Deixa Uma Casa (2003), e anunciando o lançamento do seu último título, Chave de Ignição (Labirinto, 2009). Foi este livro de matéria e sublimação que andei a ler, a espaços desiguais, nos últimos tempos. Incursões íntimas pelo comportamento físico do mundo próximo (paisagem, habitação), invariavelmente processadas no plano emocional e espiritual de um sujeito que caminha sempre muito para além dos limites do estrito, ainda que belíssimo, mapa sensorial. Um livro denso, de cuja pluralidade de sentidos e de virtudes formais não me cabe dar conta nestas breves palavras. Elas servem sobretudo para introduzir o poema que retirei do livro e que aqui se dá a conhecer.
queimo tudo dentro deste quarto -
no lugar onde o teu corpo
parte.
o campanário permanece.
a alma renasce
com a poeira.
faz parte da serra
- a que chega, a que fica, a que
abala como abrigo
escavado na rocha -.
a pedra recebe o teu corpo.
desaparece. apenas um rasgo
entre dois líquenes
recorda a fundura
das células.
queimo tudo - nesta casa.
os sinos pontuam o sono.
- a melodia cresce.
queimo tudo dentro deste quarto -
no lugar onde o teu corpo
parte.
o campanário permanece.
a alma renasce
com a poeira.
faz parte da serra
- a que chega, a que fica, a que
abala como abrigo
escavado na rocha -.
a pedra recebe o teu corpo.
desaparece. apenas um rasgo
entre dois líquenes
recorda a fundura
das células.
queimo tudo - nesta casa.
os sinos pontuam o sono.
- a melodia cresce.
2 comentários:
Obrigado pelas tuas palavras!
Ruy
queimo tudo - neste poema
e a melodia é.
jorge vicente
Enviar um comentário