Na perplexidade confusa em que fiquei, concluí que entender e não-entender eram a mesma coisa. Não-entender era claramente entender que não entendia. Um jogo de palavras. E o erro, porque me era de súbito evidente um erro, estava em procurar entender, necessariamente por palavras, o que não pertencia à ordem das palavras. Estas servem para comunicarmos uns com os outros, não é verdade? Mas, se servem para a comunicação entre pessoas que não se conhecem nem às motivações que não existem, elas não servem para explicar coisa alguma, e sim para comunicar coisas cuja única explicação é poderem ou mesmo não poderem ser postas em palavras. Portanto, a experiência da vida, que resulta de compreendermos as nossas relações com os outros e com nós mesmos, é precisamente o que não pode ser posto em palavras, sem que perca a sua condição de existência, que é acertarmos o passo entre nós mesmos e os outros. Por isso, o nosso conhecimento dos outros depende tanto mais do que lhes não vemos fazer, e do que eles não dizem, quando falam. Depende precisamente do que, ao certo, não podemos saber, e, muitas vezes, nem eles mesmos sabem. Daí que, afinal, as palavras servissem simultaneamente dois fins opostos e complementares: prever verbalmente o provável, e sugerir o silêncio do possível.
Jorge de Sena, Sinais de Fogo
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