O poeta e amigo R.V. diz-me ao telefone que o melhor é que partamos cedo, "pela fresca", e eu concordo em absoluto. Saiamos por isso cedo, por la carretera, que sem pressa e em boa conversa se faz ligeira a viagem e prazenteira.
Encontramo-nos no pequeno café da estação de Coina (não, não vou cair na tentação da piada fácil): R.V., pontualíssimo, folheia o jornal do dia, de cujas páginas me fica na retina certo artigozinho no qual se revela o verdadeiro e até agora algo desconhecido processo de formação das carapaças de tartaruga. Mais à frente, após breve merenda na estação de serviço de Santarém e a propósito de tartarugas, R.V. perguntar-me-á a razão do título do meu livro. Como sempre, não me escuso a responder sumariamente, remetendo o assunto para uns versos mais elucidativos da página 34 do dito volume.
Dia soalheiro, propício para uma descansada viagem. Falamos de livros, trabalho, família. Suponho que a isto se chama conhecer-se melhor. Sim, estamos a conhecer-nos melhor. R.V. é sem dúvida um óptimo conversador. O tempo passa rapidamente e quando damos por nós estamos já a uma dúzia de quilómetros da sempre invicta cidade. Almoçamos nos Carvalhos e comentamos o bom ambiente e simpatia de preços do restaurante escolhido. Entrecosto-me na brasa e bebo uma cerveja.
Rumamos depois para o Minho e quando por lá se entra é difícil ficar indiferente à paisagem verdejante, ao ambiente de certa intimidade rural, acolhedora e tranquila. O milho alto, a vibrar à luz da tarde, as extensões de vinha (gostamos que haja imensas e para todo o sempre), as estradas muradas. Paira no ar aquele clima de verão setenterional, a um mesmo tempo fresco e luminoso, entremeado de brisas quentes e já com todos os incansáveis preparativos de festas populares, à espera de filhos pródigos e familiares longínquos.
Estamos já às portas de Vila Nova de Famalicao, onde terá lugar a apresentação do ambicioso projecto Portuguesia. Com duas horas ainda para gastar antes de darmos entrada no hotel, paramos às portas da cidade para uma breve visita à bonita igreja de São Tiago das Antas (foto), onde R.V. me presenteia com toda a sua sabedoria em matéria de arte sacra, conhecimento esse que eu próprio já atestara durante leitura do seu bilingue El Lugar, La Imagen (2006), o primeiro livro que das sua mãos recebi. Tiramos umas fotografias e pomo-nos a caminho do nosso primacial objectivo de visitantes em Famalicão: a Fundação Cupertino de Miranda, pois claro.
Aí sabemos ir encontrar um importante espólio do surrealismo luso e não somos com efeito defraudados. O edifício, só por si, é já merecedor de uma observação atenta, com aquele enorme torreão, dominando toda a central praça (foto). Somos recebidos por uma simpática senhora e acedemos à exposição sem pagar: desenhos de António Maria Lisboa e Mário Henrique Leiria, figuras a quem eu jamais conhecera qualquer veia de artistas plásticos, mas suponho que naqueles anos de desenfreadas experiências estéticas nenhum campo artístico pudesse estar vedado. Encontramos também desenhos, pinturas e colagens de todos os principais nomes da época. Ao vaguear pelas várias salas da fundação-museu, curiosamente dispostas em espiral ascendente, vamos trocando algumas observações: a crueldade da família de António Maria Lisboa, por sempre ter reprimido o génio do rebelde rebento; as acusações a Cesariny pela deturpação da obra de António Maria e outras atitudes menos dignas; e também a dificuldade de R.V. em adquirir o volume de poesia de Pedro Oom, editado pela &etc e impossível de encontrar.
Saímos uma horita depois. Decido não comprar o belíssimo catálogo do espólio da Fundação, tendo em conta que não é propriamente barato e que o verão exigirá de mim ainda umas massas valentes. Ah, o vil metal, sedutor e ruinoso. Rumamos ao hotel para nos encontrarmos com os restantes versejadores, desejosos já de rever o poeta W.S., o grande responsável pelo Portuguesia.
Dia soalheiro, propício para uma descansada viagem. Falamos de livros, trabalho, família. Suponho que a isto se chama conhecer-se melhor. Sim, estamos a conhecer-nos melhor. R.V. é sem dúvida um óptimo conversador. O tempo passa rapidamente e quando damos por nós estamos já a uma dúzia de quilómetros da sempre invicta cidade. Almoçamos nos Carvalhos e comentamos o bom ambiente e simpatia de preços do restaurante escolhido. Entrecosto-me na brasa e bebo uma cerveja.
Rumamos depois para o Minho e quando por lá se entra é difícil ficar indiferente à paisagem verdejante, ao ambiente de certa intimidade rural, acolhedora e tranquila. O milho alto, a vibrar à luz da tarde, as extensões de vinha (gostamos que haja imensas e para todo o sempre), as estradas muradas. Paira no ar aquele clima de verão setenterional, a um mesmo tempo fresco e luminoso, entremeado de brisas quentes e já com todos os incansáveis preparativos de festas populares, à espera de filhos pródigos e familiares longínquos.
Estamos já às portas de Vila Nova de Famalicao, onde terá lugar a apresentação do ambicioso projecto Portuguesia. Com duas horas ainda para gastar antes de darmos entrada no hotel, paramos às portas da cidade para uma breve visita à bonita igreja de São Tiago das Antas (foto), onde R.V. me presenteia com toda a sua sabedoria em matéria de arte sacra, conhecimento esse que eu próprio já atestara durante leitura do seu bilingue El Lugar, La Imagen (2006), o primeiro livro que das sua mãos recebi. Tiramos umas fotografias e pomo-nos a caminho do nosso primacial objectivo de visitantes em Famalicão: a Fundação Cupertino de Miranda, pois claro.
Aí sabemos ir encontrar um importante espólio do surrealismo luso e não somos com efeito defraudados. O edifício, só por si, é já merecedor de uma observação atenta, com aquele enorme torreão, dominando toda a central praça (foto). Somos recebidos por uma simpática senhora e acedemos à exposição sem pagar: desenhos de António Maria Lisboa e Mário Henrique Leiria, figuras a quem eu jamais conhecera qualquer veia de artistas plásticos, mas suponho que naqueles anos de desenfreadas experiências estéticas nenhum campo artístico pudesse estar vedado. Encontramos também desenhos, pinturas e colagens de todos os principais nomes da época. Ao vaguear pelas várias salas da fundação-museu, curiosamente dispostas em espiral ascendente, vamos trocando algumas observações: a crueldade da família de António Maria Lisboa, por sempre ter reprimido o génio do rebelde rebento; as acusações a Cesariny pela deturpação da obra de António Maria e outras atitudes menos dignas; e também a dificuldade de R.V. em adquirir o volume de poesia de Pedro Oom, editado pela &etc e impossível de encontrar.
Saímos uma horita depois. Decido não comprar o belíssimo catálogo do espólio da Fundação, tendo em conta que não é propriamente barato e que o verão exigirá de mim ainda umas massas valentes. Ah, o vil metal, sedutor e ruinoso. Rumamos ao hotel para nos encontrarmos com os restantes versejadores, desejosos já de rever o poeta W.S., o grande responsável pelo Portuguesia.
1 comentário:
gosto muito da tua maneira de contar
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