segunda-feira, agosto 04, 2008

Dia primeiro. Na capital dos húngaros


Cheguei hoje ao país dos húngaros, naturalmente na companhia de S., sem cujo convite não teria provavelmente decidido passar aqui umas férias despreocupadas. Este foi aliás o teor da nossa conversa, a dada altura, durante o longo trajecto. Estou muito feliz por esta viagem, dissera-lhe eu. Sempre quis visitar esta parte do continente. Mas agora estou muito mais entusiasmado do que alguma vez supus poder estar, e é tudo por tua causa, tu sabes disso, por ser este o teu país e por tu quereres mostrar-mo.

No caminho para a casa de S., já em terra e após uma serena tirada, atravessámos, tranquilamente motorizados, certa avenida do bairro dez, cuja particularidade maior, para além de um enorme bazar chinês, se prendia com a existência, por escassos metros separados, de três crudelíssimos estabelecimentos prisionais. Diante de um deles, em plena via pública, uma mulher procurava comunicar com um seu familiar detido, possivelmente o cônjuge, recorrendo para esse efeito a gritos e gestos direccionados à janela gradeada do indivíduo em causa. Toda a situação teve naturalmente a sua piada, temperada por um certo sentimento de piedade, mais que merecido a quem tão abertamente se preocupa por um dos seus, indiferente a olhares e julgamentos alheios.

Pela noite, ou fim de quente tarde, pude experimentar um glorioso repasto de especialidades húngaras, preparado pela avó e tia de S., a saber: um caldo enriquecido com massas, cenouras, batata e pedaços do afamado pimento magiar; um prato principal de tenríssima carne de porco em molho com cogumelos, ensopando em simultâneo um acompanhamento de nokedli, uns pedaços de farinha e ovo, cozidos em água; e por fim, como indispensável sobremesa, um fabuloso bolo de avelã e chocolate, húmido como é de meu especial gosto. Por amável sugestão do tio de S., tive nessa noite um primeiro e infelizmente fugaz contacto com o famoso vinho Tokaji, sem dúvida uma das principais e mais requintadas produções de labor húngaro.

Regressámos a casa já noite profunda, pelos mesmos meios em que antes para ali nos deslocáramos, ou seja, na espada encarniçada de T., a uma boa e prazenteira velocidade. A jornada não se deu porém terminada sem uma nocturna investida pelo parque de Liget, largo e amiúde sumptuoso, onde pude travar conhecimento com alguns jovens húngaros do círculo de S. Não posso dizer que tenha gostado do aí consumido vinho branco com água gasosa, absolutamente sensaborão, ainda que fresco e em larga medida adequado ao subsequente repouso, esse adorável rebento da fadiga, já àquela hora amplamente estabelecida.

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