Eu queria falar um pouco sobre P. Sobre a importância que ele tem na minha vida, apesar da sua existência me ser no fundo completamente indiferente. Ele é daquelas pessoas com especial pendor para a maledicência enquanto forma privilegiada de humor e entertenimento. Maledicência justificada, apontando este ou aquele aspecto merecedor de crítica, ou puramente ficcional, inventando histórias e lançando boatos vis. É certo que ele tem sempre uma certa graça. E também a noção fundamental de quando falar e na presença de quem fazer este ou aquele violentíssimo comentrário. Mas eu gosto de P. E gosto pelos mais fortes motivos. É que ao ser como é, maledicente e cruel, P. permite-me preservar uma certa e imaginada pureza de espírito. Ao ouvir como graceja dos outros, pleno de mordacidade, fico saciado de uma certa maldade que, sem P., teria eu próprio de tomar em mãos. De certo modo, é ele o potenciador de uma catarse que me é cara. A de violentar sem culpa, apenas enquanto cúmplice circunstancial, um pouco à margem (supostamente à margem) de tudo aquilo que P. vai alvitrando. Ele, o gigantesco maledicente que me vai escusando dos grandes pecados da alma.
2 comentários:
Tantos "P.'s" assim no mundo... e valem a pena, pela irreverância!
Andas a ler Kafka a mais... Mas pelos vistos está-te a fazer bem! Continua nessa onda!
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