quarta-feira, agosto 23, 2006

A apanha da amêndoa. Mito húngaro

Alguns dos mais antigos e interessantes mitos magiares estão associados ao trabalho do campo, podendo ser entendidos como espécie de paliativo perante as agruras do árduo quotidiano laboral. Um deles teve origem remota do trabalho da apanha da amêndoa, actividade também responsável por parte significativa do cancioneiro rural húngaro.
Perante uma amendoeira carregada, o trabalhador leva a cabo a colheita em três fases distintas. Primeiro deve posicionar-se de cócoras e revistar o solo em redor da árvore, à procura dos frutos já caídos. Numa segunda fase, de pé, o trabalhador colhe naturalmente as amêndoas ao alcance da mão, devendo prestar especial atenção aos ramos interiores onde, por manifesto mimetismo, se confundem as amêndoas com a folhagem. Finalmente há que colher os frutos dos ramos mais altos. Nesta instância é o trabalhador auxiliado pelo giosz, um engenhoso instrumento agrícola cuja competente utilização permitirá realizar o trabalho com sucesso. O giosz é um longo cabo de madeira, da altura de um indivíduo adulto, rematado por um saco de pano acoplado longitudinalmente à parte de cima do dito cabo. Com esta alfaia, o trabalhador procurará abanar as amêndoas mais altas de modo a que estas se desprendam dos seus caules maduros e caiam no dito saco.
A mitologia húngara conta a história do giosz estranhamente animado pelo vento nocturno, ganhando assim vida própria. Balouçando-se no ar com admirável destreza, o instrumento vagueia pelo céu da noite húngara, colhendo não as triviais amêndoas mas as estrelas mais brilhantes. É com elas que as moças enfeitarão os vestidos para a o dia do primeiro baile de aldeia.

2 comentários:

Margarida disse...

Um dia destes, ainda arranjo um giosz e apanho uma estrela. Mas não a porei num vestido.

Gosto de ler este blogue, independentemente do índice de escuridão.

Anónimo disse...

beautiful.......