(...) de início, Ruzena não podia ter a certeza de quem era o responsável pela sua maternidade. Aquele que tomara primeiro em linha de conta era o homem que a observava agora às escondidas, mal dissimulado por uma árvore do jardim público. Isso fora, evidentemente, apenas de início, porque, posteriormente, mostrara-se cada vez mais favorável à escolha do trompetista como genitor, até ao dia em que decidira que era, com toda a certeza, ele. Entendamo-nos: não era por astúcia que queria atribuir-lhe a sua gravidez. Ao tomar a sua decisão, ela não escolhera a astúcia, mas a verdade. Decidira que as coisas eram de verdade assim.
Aliás, a maternidade é uma coisa a tal ponto sagrada que lhe parecia impossível que um homem que ela desprezava pudesse ser a sua causa. Não era de modo nenhum um raciocínio lógico, mas uma espécie de iluminação supra-racional o que a persuadira de que só podia ter engravidado de um homem que lhe agradava. E quando ouvira pelo telefone aquele que escolhera como pai do seu filho ficar chocado, aterrado, esforçando-se por recusar a sua missão paterna, tudo ficara definitivamente resolvido, porque, a partir desse momento, Ruzena não só deixara de duvidar da sua verdade, como ficara pronta a travar combate por ela.
Milan Kundera, A Valsa do Adeus
2 comentários:
a ironia da verdade é a verdade da ironia. Bons parágrafos
Óptimo excerto. Deu vontade de ler o livro que é um daqueles que sempre quis ler mas nunca li...
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