quarta-feira, maio 17, 2006

Um sonho

Tive ontem um intenso pesadelo de cães. Sem saber ao certo como ou por que razão, vi-me atacado por pequenos canídeos de dentes arreganhados. Cercavam-me os pés e, na medida da sua fraca capacidade física, procuravam abocanhar-me os tornozelos e as canelas. Acabei por repeli-los a pontapé e com uma violência tal que dois ou três biqueiros se mostravam mais do que suficientes para os neutralizar. Ao despertar sem sobressalto, e enquanto tomava o pequeno-almoço, não pude deixar de admitir para comigo mesmo que havia usado de uma força algo desmesurada já que, após o primeiro par de patadas certeiras, não hesitava em lhes esmagar as mínimas cabeças contra o chão de terra batida. Mas ao contrário do que seria de esperar, que é o mesmo que dizer-se ao contrário da realidade como a podemos supor, não se desfaziam os crânios em sangue, ossos e matérias interiores afins. Aqueles pareciam tratar-se de pequenos cães empalhados, já que os corpos e as cabeças furiosas, mais do que destruídas sobre as minhas solas, se esfarrapavam em retalhos secos e poeirentos, dos quais nada mais acabava por restar do que um olhar esbugalhado num misto de derrota e surpresa. Ainda assim, apesar de algum inevitável remorso, julgo que não poderia ter agido de outra forma. Quem sabe de que danos poderiam tais criaturas ser capazes, caso não tivesse reagido de pronto, ainda que com alguma brusquidão?

5 comentários:

nuno disse...

há quem diga que sonhar com cães é um bom presságio... já estás nos meus links. um abraço

AR disse...

Podes remediar a situação sonhando esta noite novamente com eles... ou será que dispensas?

Anónimo disse...

tás todo queimadinho...

heartbreaker disse...

Tu és louco.

Anónimo disse...

Na parte final do teu texto reconheço um laivo de José Régio. Já leste o seu conto "Os paradoxos do Bem"? Encontra-lo em "Há Mais Mundos".
Muito recomendável.
E tu, continua a escrever os teus sonhos. Quando nos lembramos deles, sao uma fonte inesgotável de inspiraçao, e valem bem mais do que um par de musas frígidas.

(P.S. Em breve vemo-nos em Portugal)