sexta-feira, novembro 12, 2004

sei bem que a viste
vi que estavas a meu lado:
uma terrível faixa afogueada
de um dourado intenso, quase cegante
cortava pela base o céu inteiro
um céu matutino
carregado de água

ao primeiro olhar
não pude bem crer
em tamanha violência
em tão voraz contraste

um espinho atravessado na manhã escura

não seria de esperar ouvir
gritos, ao menos
lamentos e gemidos
ainda que breves?

o espectáculo durou outra hora
até à extinção triste
de uma luz que não pode sobrar

a tudo assisti da minha cama
e devido a lesão no pé direito
não mais pude almejar
que os limites da janela

tu saíste para a rua
foste, como se diz,
à tua vida
para ver que extensões poderia tomar
a rebelião do fogo
sobre o carro de chuvas e ventos

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sei se te conheço, nem quero especular sobre a tua identidade. Sei que me reconheço no que escreves, mas tu sabes exprimir tudo muito melhor e muito menos crítica que eu. Revelas um enorme talento, uma coerência incrível e um manusear das palavras simplesmente inteligente e melodioso, quer seja em prosa ou poesia. Gostei de te ler e tomei a liberdade de colocar um texto teu, em jeito de homenagem, no meu blog:www.largerthanL.blogspot.com
jocas