sábado, maio 11, 2013

Da dor. Um poema de Ana Cristina César


21 de fevereiro
Não quero mais a fúria da verdade. Entro na sapataria popular.
Chove por detrás. Gatos amarelos circulando no fundo.
Abomino Baudelaire querido, mas procuro na vitrina um
modelo brutal. Fica boazinha, dor; sábia como deve ser, não tão
generosa, não. Recebe o afeto que se encerra no meu peito. Me
calço decidida onde os gatos fazem que me amam, juvenis,
reais. Antes eu era 36, gata borralheira, pé ante pé, pequeno
polegar, pagar na caixa, receber na frente. Minha dor. Me dá a
mão. Vem por aqui, longe deles. Escuta, querida, escuta. A
marcha desta noite. Se debruça sobre os anos neste pulso. Belo
belo. Tenho tudo o que fere. As alemãs marchando que nem 
homem. As cenas mais belas do romance o autor não soube
comentar. Não me deixa agora, fera.


Sem comentários: