terça-feira, janeiro 31, 2012

Dois poemas de Lígia Dabul



Lava a jato

véspera de feriado tudo o que é fosco
reluz o esforço para sair desta cidade
não resultou em absolutamente nada
essa espuma ali perto do maracanã
morrendo de medo no sinal você
quer biscoito globo outro vôo e
a praça da bandeira desembarca
no viaduto que mais parece
um poleiro os carros de longe
dormem mas eu subo furiosa
acelerando todas e confesso na
lata na lataria luzente ainda
daquela vez combinamos contar
os segredos mais guardados sabe
o que escrevi - sempre que me
confundo semânticas sem querer
e depois misturo a própria semântica
com outras fraudulências é um lance
é um dado eu detesto ficar parada
vamos, tem que ter outra saída

in Nave



Calendário

Volto do ponto morto. Ferve onde
não deve, no motor com estilo e água
à vontade. O gênio que trabalha esses
vapores imprime grato a graxa. Cada
peça passa, cada dia uma retífica
como se fosse a vida. Também abrasa
a lataria - talvez se locomova. Por
fora figuras que ligam tudo e
um mês ao outro e ainda depois.

in Algo do Gênero

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