segunda-feira, agosto 29, 2011

Assalto ao corpo


1
ruboriza-se a face
ao escárnio do tempo

atemoriza-se a face

grade
grito
grão de pele

a meios vários
e engendramentos
recorre a carne
aflito o corpo
fazendo fé em fugazes salvamentos


2
porque sendo marca grave
de profunda marcação
e doentia
não permite ao dorso lento
mais que plácido lamento
ou orgânica ardentia


3
e move-se por acção do fulgor mais obscuro
largando à superfície do torso submisso
um vergão a lembrar incêndios

afoita a marca
isenta de água
exigirá mais tarde do dia
lenitiva superação de membros

de tudo isto se compondo
ou dissolvendo
vai somando o corpo os seus desastres

 

4
e ao mesmo tempo inclina-se a fronte
sobre o corpo há muito sentado
alvoroçando com um sopro somente
a penugem dos joelhos incautos

ademais empreende com isso
ranhura de carne a meio-torso
logo tornada
instaurado o calor
rego ou canal de águas salgadas



5
após o tumulto de nervos e vasos
em findando a borrasca
estabelecido já o repouso
enclausura-se o corpo
em sereno aforro de esforços

à noite reclamarão os sentidos
trégua de sono manso
ou travo de abandono


6
e em folgando o corpo de seus labores
ilibado já de diligências
de cargas enormes
de nefandos rigores
tem início no quarto
distensão espontânea de fibras
dilatação de carnes

o olhar percorre as paredes
em busca de um ponto de repouso
e a boca verte salivas
pelos queixos com pêlo
pelo pêlo dos peitos
superado o assalto

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