quinta-feira, março 17, 2011

Silêncio. Um poema de Nuno Dempster

De repente ficou tudo deserto
na área de serviço da BP:
a luz do sol, os dois camiões TIR,
atrás uma paisagem de ninguém.
Por entre penedias e carvalhos,
nem sequer a lembrança das pegadas
que do início dos dias me recorda
a ideia de haver morte, se a terra é
as estações contínuas que mantêm
real a sobrevida, o tempo intacto.
Vulto que respirasse só o meu.
Por ali nenhum outro se assomava.
Talvez tivesse sido uma explosão,
talvez tivesse sido o Sol distante
numa fissura de átomos de gelo.
E no entanto se a morte fosse assim,
se o final fosse aquele espanto claro
das bombas de gasóleo sem ninguém,
dos camiões parados e sem préstimo,
das  coisas no seu último sentido
que é não haver sentido para nada,
se eu pudesse fixar esse momento,
guardá-lo para sempre nos meus olhos,
que feliz abstraído viveria
nos mil metros quadrados sem ninguém
da área de serviço da BP.

Nuno Dempster, in Poesia Reunida

1 comentário:

Sofia disse...

szép.