sexta-feira, abril 23, 2010

Dois sonetos de amor


São os dois primeiros poemas de Respiração Assistida, o livro póstumo do saudoso Fernando Assis Pacheco. Aqui a malta gosta muito desta fértil convivência entre um profundo sentido lírico e o coloquialismo mais descomplexado. Por isso Assis Pacheco tem lugar cativo no nosso coração de leitores viventes.


Por uma cona assim eu perco o tino
e tudo o mais desamo que não faça
como rata em soneto de Aretino:
a um caralho dar frequente caça

porque essa cona tem da melhor raça
a traça que se diz «donaire fino»
se rosto fora ela e não conaça
onde o tesão divino toca o sino

com uma cona assim aquel' menino
Cupido troca as setas pela maça
martela meus colhões num dasatino
que do Rossio ecoa até à Graça

ela é a melhor rata que dá caça
a este meu javardo de inquilino



Os trabalhos de amor são os mais leves
de quantos algum dia pratiquei
na cama as alegrias fazem lei
e se me queixo é só de serem breves

eu vivo atado às tuas mãos suaves
num nó de que este corpo já não sai
ferve o arco do sol a tarde cai
ardem voando pelo céu as aves

mágoas outrora muitas fabriquei
e em países salobros jornadeei
ao dorso das tristezas almocreves

a vez em que te amei um outro fui
comigo fiz a paz nada mais dói
e os trabalhos de amor nunca são graves



1 comentário:

Juliana disse...

Dia 23/04 dia Mundial do Livro
Feliz dia do livro!

tem poste dedicado a esse dia no meu blog. passa la e de uma olhadinha

bjs...