sexta-feira, fevereiro 05, 2010

A mãe e a cidade

(Foto Aglaia Konrad)

O poeta está de passagem por Lisboa e telefona-me a meio da manhã a propor um encontro. Horas mais tarde estou diante do lugar marcado e ouço a sua voz ribombante nas minhas costas. Falamos de várias coisas e eu conto-lhe os meus planos de em breve partir para outro lugar. Também o poeta viajou bastante ao longo da vida. Traz no corpo os danos e dores de anos a carregar livros e mobiliário. Mas há coisa de uma década decidiu parar e regressar por fim à sua cidade. Quando se chega a uma certa idade, nem é preciso ser muito velho, um homem tem de decidir onde vai morrer, diz-me ele, num misto de conselho e revelação. Depois conta-me que pouco antes de ter tomado a decisão de se mudar definitivamente para a cidade de origem, morrera-lhe a mãe. Até esse momento, ele vivera muito tempo longe de casa, mas sempre com a segurança de poder ir lá de visita, sempre que quisesse, e ficar com a sua mãe. Com a morte da progenitora, o poeta viu-se despido, desligado, perdido no mundo. Uma pessoa ou tem mãe ou tem cidade. No melhor dos casos tem até as duas coisas, mas pelo menos uma terá sempre de ter para poder ser feliz. Sem mãe e sem cidade é impossível, conclui. Quando me vi sem mãe e longe da minha cidade, soube que era altura de regressar.


1 comentário:

An7ónio disse...

Vê lá se avisas quando e para onde vais na véspera.