Os escassos leitores destas notículas perdoar-me-ão, assim o espero, a ausência de largos dias, que por ora me encontro mais uma vez entre a magiar populaça, em tranquilo veraneio, tendo por conseguinte descurado a continuação destas pessoais observações em torno do evento "Portuguesia". Para quem tem ainda na cabeça a primeira e segunda partes destes "apontamentos", não fará nociva impressão retomá-los assim de chofre, como costuma dizer-se. Assim farei, fiado nas virtudes da memória que, parafraseando o livro protagonista da anterior entrada neste blogue, não deixa de ser também algum conhecimento.
As formais intervenções do primeiro dia do encontro, conforme calendarizadas no programa oficial do mesmo, tiveram início após o jantar, com assistência na ordem das duas ou três dúzias de pessoas. As apresentações da praxe tiveram como protagonista, tanto pela extensão do discurso como pela singularidade do carácter, o hospitaleiro director da Casa de Camilo, afável e espirituoso, ainda que desviando-se um pouco da poesia enquanto foco central do evento, preferindo deambular por territórios essencialmente camilianos.
Na qualidade de responsável pela antologia, e principal razão de ser de todo o projecto, também o poeta W.S. procedeu às chamadas honras da casa, detendo-se algum tempo no livro/dvd enquanto resultado material de ano e meio de trabalho e pesquisa. Pessoalmente, eu apenas tomara contacto directo com o antológico volume alguns momentos antes, regressado do jantar: objecto grosso, vistoso, em edição irrepreensível, com o espaço da capa e sobrecapa traçado por uma cruz azul sobre fundo prata, sugerindo, como vim mais tarde a saber, o vetusto estandarte do antigo reino português. No interior, cerca de quinhentos poemas de cento e um poetas, introduzidos pelo encarniçado triângulo de Minas Gerais, em três sobreposições, e por uma breve mas contundente dedicatória: "aos ágrafos". Ponho-me a pensar se o meu apreço por esta autodenominada "contraantologia" seria tamanho caso eu dela não fizesse parte. Fico um pouco sem saber...
Outra particularidade do volume, e porventura o seu traço mais singular, prende-se com o facto de os poemas se sucederem pelas páginas sem qualquer referência à sua autoria. Apenas no final são reservadas algumas páginas ao nome e curta biobibliografia dos poetas lusófonos antologiados, com indicação das páginas onde os respectivos poemas de cada um se encontram reproduzidos. A este propósito, ocorre-me que semelhante opção de conceder principal enfoque ao poema, ao texto em estado bruto, sem contaminação de informações paralelas e acessórias, vem de certa forma combater esse vício apontado por uma socióloga como Idalina Conde, a saber, o domínio de uma cultura do mero reconhecimento (dizer que se "conhece" um poema em resultado de algum contacto efémero e superficial com o mesmo) em detrimento de uma cultura do conhecimento (neste caso, leitura profunda do texto, sem os preconceitos necessariamente suscitados por uma prévia indicação do nome do autor). Tal como o poeta E.M.M.C elogiosamente observará, ainda nessa mesma noite, o nome do autor funciona assim nesta antologia como índice, e não com ícone. Dificilmente a questão poderia ser colocada de melhor forma.
Feitas as apresentações, e já com um atraso significativo, seguir-se-iam duas mesas de debates, onde o nome de Eugénio suscitou protestos da audiência e lugar houve até para uma inesperada canção de Coimbra.
1 comentário:
"Outra particularidade do volume, e porventura o seu traço mais singular, prende-se com o facto de os poemas se sucederem pelas páginas sem qualquer referência à sua autoria. Apenas no final são reservadas algumas páginas ao nome e curta biobibliografia dos poetas lusófonos antologiados, com indicação das páginas onde os respectivos poemas de cada um se encontram reproduzidos."
Ideia genial.
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