Somos gentilmente instalados em Vila Nova de Famalicão no Hotel Moutados. O nome sugere-me toda uma série de potenciais sentidos que decido não explorar. Tem uma coisa em comum com certas pessoas que conheci ao longo dos anos: feio por fora, bonito por dentro. É o que conta, dizem. Subo ao quarto, banho-me e adormeço por meia-hora. Depois volto a descer ao chamado lobby. Encontro R.V. à conversa com o poeta W.S., o laborioso e inspirado responsável pelo projecto Portuguesia, e amigo que não via há já ano e meio. Estou contente por lhe pôr os olhos na fronha, por lhe sentir os ossos. Conversamos, trocamos novidades.
Outros poetas vão pouco depois chegando, uns conhecidos outros não. Um há que me sonega um exemplar do meu último livro. Apropria-se dele nas minhas barbas. É a primeira vez que eu próprio tenho o rebento nas mãos, disponibilizo-o amavelmente às pessoas à minha volta, para que o vejam e toquem, e logo sou espoliado de um dos escassos cinco exemplares que por ora me são entregues, espoliado da forma mais ardilosa possível, por entre sorrisos querendo dizer "vá lá, que te custa?, não me faças essa desfeita". Dois dias mais tarde, S. irá confrontar-me com a minha incapacidade de dizer não às pessoas, ainda que à força de algum atrito. Sim, sou um pouco fraco. Evito a toda a hora confrontações embaraçosas. Em boa verdade, não posso perante isto lamentar que, por consequência, me acabem por roubar livros, alma.
O encontro terá início nessa mesma noite na Casa de Camilo em Seide S. Miguel. Ou melhor, no espaçoso e recente edifício do Centro de Estudos Camilianos, uma vez que a casa do bom prosador fica, em rigor, do outro lado da estrada, estando de igual modo aberta ao público para visita. Antes do início dos trabalhos, passamos de rajada pelo Centro onde temos a oportunidade de passar os olhos por uma interessante exposição acerca das mulheres na vida de Camilo, cada qual especial à sua maneira. Culminando todas essas arrebatadoras e atribuladas relações, teria tido Camilo em Ana Plácido uma admirável síntese de tudo quanto um homem procura numa mulher. Segundo consta, claro. Seguimos depois para jantar ali bem perto.
Os poetas reúnem-se à mesa e atacam as entradinhas. À minha esquerda começam a ser tecidas considerações e revelações sobre Eugénio. Sorrio perante algumas histórias e fico boquiaberto com outras. Pouco depois ganho coragem e peço ao simpático empregado que mude a televisão para o hóquei em patins. Alguns poetas aderem. Ouço alguém falar do génio de Livramento, mais ou menos na mesma altura em que no ecrã começa a desenhar-se a derrota das lusas cores. Fico com pena.
Olho para o relógio. Já são horas de dar início ao Portuguesia e estamos nós ainda a iniciar o segundo prato que, se querem mesmo saber, consiste de uma mista de carne grelhada acompanhada das guarnições da praxe. O poeta A.B. classifica o feijão preto de demasiado salgado. Vem-me à cabeça que, no Brasil, semelhante adjectivo poderia querer dizer "caro", "dispendioso". Já "quente" ou "escaldante" seriam possíveis qualificações para as discussões desse serão, como aliás daremos conta já de seguida.
O encontro terá início nessa mesma noite na Casa de Camilo em Seide S. Miguel. Ou melhor, no espaçoso e recente edifício do Centro de Estudos Camilianos, uma vez que a casa do bom prosador fica, em rigor, do outro lado da estrada, estando de igual modo aberta ao público para visita. Antes do início dos trabalhos, passamos de rajada pelo Centro onde temos a oportunidade de passar os olhos por uma interessante exposição acerca das mulheres na vida de Camilo, cada qual especial à sua maneira. Culminando todas essas arrebatadoras e atribuladas relações, teria tido Camilo em Ana Plácido uma admirável síntese de tudo quanto um homem procura numa mulher. Segundo consta, claro. Seguimos depois para jantar ali bem perto.
Os poetas reúnem-se à mesa e atacam as entradinhas. À minha esquerda começam a ser tecidas considerações e revelações sobre Eugénio. Sorrio perante algumas histórias e fico boquiaberto com outras. Pouco depois ganho coragem e peço ao simpático empregado que mude a televisão para o hóquei em patins. Alguns poetas aderem. Ouço alguém falar do génio de Livramento, mais ou menos na mesma altura em que no ecrã começa a desenhar-se a derrota das lusas cores. Fico com pena.
Olho para o relógio. Já são horas de dar início ao Portuguesia e estamos nós ainda a iniciar o segundo prato que, se querem mesmo saber, consiste de uma mista de carne grelhada acompanhada das guarnições da praxe. O poeta A.B. classifica o feijão preto de demasiado salgado. Vem-me à cabeça que, no Brasil, semelhante adjectivo poderia querer dizer "caro", "dispendioso". Já "quente" ou "escaldante" seriam possíveis qualificações para as discussões desse serão, como aliás daremos conta já de seguida.
1 comentário:
É permanente e não há sintese no que representa a poesia para W.S. penso até que não seja mais humano o amigo na sua protobiolinguagem. Viva! portuguesia viva! iguarany, Viva os poetas de lingua portuguesa, viva a poesia. VIVA!
Milton César Pontes
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