sexta-feira, abril 10, 2009

McTeagle ou a natural propensão do artista para a recorrência de motivos

Já não sei com quem foi, possivelmente com o Ricardo, numa daquelas inaugurais conversas na esplanada do Príncipe Real. Nem tão pouco me lembro de como terá surgido o assunto, mas sei que a dada altura abordámos as injustificadas críticas de que por vezes um artista é alvo por insistir, em alguns casos ad nausea, num dado tema, motivo ou recurso formal. Que mal tem isso?, concluimos a dada altura. Deve o músico ser realmente recriminado por insistir numa determinada sonoridade, ainda que isso fatigue e desgaste audiências? Serão merecidas as críticas ao escultor que insiste na representação de amantes ternamente enlaçados? E por que motivo desconfiar de um poeta como Glauco Mattoso, que não cessa de compor sonetos em celebração do seu fetiche por pés. Nada de errado, portanto, nessa natural propensão das mentes criativas para a recorrência de motivos. Pelo contrário, estranheza causam algumas vezes aqueles que, quais interesseiros camaleões, parecem navegar ao sabor da vaga (ou voga) do momento. Mas adiante. Só para dizer que esta já antiga conversa com o Ricardo me trouxe à memória certa brilhante tirada montypythoniana acerca do poeta escocês Ewan Mcteagle. No seu caso, o motivo recorrente são os pedidos de empréstimo monetário, de que é exemplo, como a peça faz questão de realçar, a notável passagem Oh gi'e to me a shillin' for some fags / and I'll pay ye back on Thursday, / but if you wait till Saturday I'm expecting / a divvy from the Harpenden Building Society. Brilhante.


1 comentário:

Karinna disse...

Que sotaque bizarro... pior do que o dos escoceses. Não entendi nem metade rs.