quarta-feira, julho 09, 2008

Bernhard e a arte do exagero

Se não tivéssemos a nossa arte do exagero, tinha eu dito a Gambetti, estaríamos condenados a uma vida terrivelmente fastidiosa, a uma existência em que não valeria mais a pena existir. E eu desenvolvi a minha arte do exagero, elevando-a a uma altura incrível, tinha eu dito a Gambetti. Para tornar qualquer coisa compreensível, temos de exagerar, dissera-lhe eu, só o exagero torna claro, e mesmo o risco de nos chamarem doidos já não nos incomoda na idade avançada. Não há nada melhor do que ser considerado doido na idade avançada. A melhor felicidade que eu conheço, tinha eu dito a Gambetti, é a do velho doido, que pode entregar-se, com plena independência, à sua doidice. Se isso nos fosse possível, devíamos, o mais tardar com quarenta anos, proclamar-nos velhos doidos e procurar levar ao exagero a nossa doidice.

Thomas Bernhard, Extinção (2004, Assírio & Alvim)

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