sexta-feira, dezembro 14, 2007

Eduardo Jorge

De Fortaleza viajou para o Festival Tordesilhas o jovem poeta Eduardo Jorge (1978), com quem partilhei alguns dias em casa da nossa amiga Virna Teixeira. Das suas mãos recebi o recente Espaçaria (Lumme, 2007), mais um belíssimo volume da responsabilidade do editor Francisco dos Santos e da sua Lumme. Tal como anteriormente referi em relação a Lígia Dabul, também a escrita de Eduardo Jorge se revela de grande exigência formal, não apenas nas opções lexicais inesperadas, quase violentas, mas também no apurado trabalho sintáctico, constituindo este um permanente desafio ao leitor. Para além disto, é na minha opinião uma poesia acentuadamente sensorial (os sentidos estão em constante actividade), e por isso mesmo também de enorme sensualidade. O modesto Eduardo Jorge chama-a apenas de "algumas manchas nas páginas". Ouvi dizer que um novo livro está para breve. Até lá, reproduzo o poema "de nada":

a explicação
vem do líquido
movediço:

axioma roído sobre
uma permanência -

a de silenciosos caminhos
que deságuam em fraturas:

e
coagulam

por acidente: rua cidade
amor prazer palavra -

desaparece e assusta
pela capacidade pó guardada
quando acordado o sangue

o engrossa com o ar, não move
palha alguma, nem memória,

zás -

água a explica
súplica e sede -

e lava o pó que moveu,
ou tentou explicar aléxico
a carne agora apócrifa

1 comentário:

magarça disse...

Gostei. Vou espeitar o site.Um natal feliz!