O nevoeiro desaparecera por completo, à distância brilhava uma alta montanha cuja crista ondulante se perdia mais longe ainda no meio da bruma levantada pelo Sol. De ambos os lados da estrada estendiam-se campos mal cultivados, circundando grandes fábricas, que se erguiam isoladamente na paisagem, mascarradas de fumo. Nas casernas de aluguer, dispersas ao acaso, as inúmeras janelas tremiam nos mais variados movimentos e reflexos, e em cada uma das pequenas varandas que mal se sustinham viam-se mulheres e crianças muito atarefadas, enquanto à volta delas, tapando-as e descobrindo-as, havia toalhas e peças de roupa branca penduradas ou deitadas que ora esvoaçavam, ora se enfunavam poderosamente ao vento matinal. Deixando vaguear os lhos para longe das casas, viam-se então as cotovias que voavam no céu, muito alto, e cá em baixo as andorinhas não muito acima das cabeças de quem ia passando nos veículos.
Franz Kafka, O Desaparecido (Assírio & Alvim)
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