quinta-feira, março 09, 2006

E diz Reger finalmente, no Museu de História de Arte

A arte, no seu todo, não é também senão uma arte de sobrevivência, não podemos deixar de ter em conta este facto, ela é, em suma, a tentativa, feita sempre de uma forma que até comove o entendimento, para suportar este mundo e as suas actividades, o que, como nós sabemos, de maneira geral só é possível com o uso principalmente da mentira e da hipocrisia, da dissimulação e do engano de si próprio, assim disse Reger. Estes quadros estão cheios de mentira e hipocrisia, cheios de dissimulação e engano, e, se abstrairmos da sua perfeição técnica, muitas vezes genial, neles não existe mais nada. Todos estes quadros são, além disso, expressão da absoluta incapacidade do homem para viver em consonância consigo próprio e com aquilo que durante toda a vida o rodeia. É isso que exprimem todos estes quadros, essa incapacidade que, por um lado, envergonha a cabeça e, por outro, atormenta essa mesma cabeça e de emoção a leva à morte, assim disse Reger.
Thomas Bernhard, Antigos Mestres

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